Laudir Munaretto ignorou a ciência e abriu as portas da Câmara para Covid

É natural que na democracia representativa, como a que vigora no Brasil, os eleitos para as Casas legislativas defendam o segmento em que atuam. É sim legítima a existência da “bancada evangélica”, da renominada “bancada ruralista”, agora “bancada do agronegócio”, e até da “bancada da bala” (que agrupa geralmente policiais e defensores do armamento da população) e da “bancada da motosserra”, que não hesita em favorecer os adeptos do desmatamento geral, não muito raro em terras griladas.

     Quando assumem posição de mando, no entanto, os eleitos precisam ter um olhar amplo. A convicção pessoal, o corporativismo e outros “ismos” devem ser deixados de lado, até porquê passam a atuar como juízes. É o caso dos presidentes das câmaras municipais, por exemplo, e o conjunto das mesas diretoras.

     O presidente da Câmara Municipal de Dourados, Laudir Munaretto, atua no ramo de alimentação/festas e é natural que defenda e apresente iniciativas legislativas contemplando esse setor, penalizado até as tampas pelos encargos trabalhistas, pela carga tributária oceânica e etc.  Dessa postura, que, reforce-se, é legitima e natural dos parlamentos, a tomar decisões que coloquem em risco a vida de terceiros (estamos falando de um período excepcional, que é a crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus) vai uma distância quilométrica.

    O presidente, eleito para o cargo por unanimidade, “chegou chegando”. Ao assumir, em uma canetada só conseguiu ir na contramão de tudo o que se recomendava e recomenda até hoje os infectologistas, a Organização Mundial da Saúde “OMS) e sobretudo o bom senso. Após mais de dez meses com as atividades acontecendo remotamente por conta da pandemia da Covid-19, em 1º de fevereiro de 2021, Laudir, com a Portaria Nº 01/2021, determinou a volta das sessões no formato presencial, a volta das pré-pautas (reuniões realizadas pelos vereadores, com presença de assessores, para definir a pauta de votações) no Plenarinho e outras medidas de flexibilização. Segundo declarações de servidores que preferiram não se identificar por temer retaliações, com as decisões o presidente instalou o império do medo e do pânico entre os mesmos. Essa situação de pressão psicológica foi sendo agravada a cada um dos muitos casos positivados na Casa de Leis.

     A volta das reuniões de pré-pauta no Plenarinho, um espaço diminuto sem nenhuma janela, se mostrou um desastre. 19 figuras sentados lado a lado, sem cumprir o que é obrigatório a todos os demais cidadãos, que é o distanciamento mínimo de pelo menos um metro e meio/dois metros. Vereadores sem máscara. Ambiente lotado. Uma clara “mini-aglomeração” que descumpria claramente as medidas sanitárias.

     Como a conta sempre chega, o resultado foi vários servidores e vereadores contagiados, no que foi classificado por alguns meios de comunicação como um “surto de coronavírus na Câmara de Dourados”. Mesmo diante desse quadro, o presidente só adotou o sistema de sessões e pré-pautas remotas no dia 28 de maio, quando a cidade entrou em lockdown.

    Laudir Munaretto jogou alto. Esticou a corda até quase arrebentar. Graças a Deus todos os contagiados (vereadores e servidores) se recuperaram. Se tivesse ocorrido o pior com algum deles, seria sepultado não apenas um corpo, mas também a carreira política do presidente da Câmara Municipal.